Quem convive com crises alérgicas já está acostumado com as reações do organismo, que, normalmente, são leves. No entanto, por mais simples que possam parecer, as alergias não devem ser negligenciadas. Entender o que desencadeia esse processo pode evitar reações mais graves, e esse é o principal alerta trazido pelo Dia Mundial da Alergia.
Perceber padrões, identificar gatilhos e agir de forma preventiva permite uma convivência melhor com a alergia e evita riscos. A conscientização, muitas vezes, começa com as campanhas promovidas em ocasiões como o Dia Mundial da Alergia, mas a prática precisa ser recorrente.
Neste artigo, vamos explicar o que são as alergias, quais os tipos mais comuns, os sintomas que merecem atenção e o que fazer para prevenir crises e buscar um diagnóstico adequado.
Quando ocorre o Dia Mundial da Alergia e por que a data é importante?
Celebrado em 8 de julho, o Dia Mundial da Alergia é uma oportunidade para ampliar o conhecimento da população sobre um problema de saúde que afeta pessoas de todas as idades. A data, que foi criada pela Organização Mundial da Alergia (WAO), tem como objetivo alertar sobre sintomas, causas, diagnóstico e prevenção das reações alérgicas.
No Brasil, estima-se que cerca de 30% da população tenha algum tipo de manifestação alérgica, segundo a Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI). Apesar de frequentes, as alergias ainda são subestimadas — e podem impactar seriamente a saúde e a qualidade de vida.
Normalmente, a resposta do organismo a uma crise alérgica é inofensiva. Essa situação, chamada de reação de hipersensibilidade, no entanto, pode ser exagerada em quadros de maior risco. Por isso, a data é importante para trazer esse tipo de esclarecimento e orientar as pessoas sobre como evitar crises, conviver bem com as alergias e o que fazer em caso de emergência.
O que são as alergias?
A alergia é uma resposta intensa do sistema imunológico a substâncias que, normalmente, seriam inofensivas para a maioria das pessoas. Esses agentes são chamados de alérgenos e incluem desde poeira, pólen e ácaros até alimentos, medicamentos e produtos químicos.
Se uma pessoa alérgica entra em contato com o alérgeno, seu sistema de defesa reage de forma exagerada, liberando histamina e outras substâncias que provocam os sintomas típicos das crises alérgicas. Essas manifestações variam de acordo com o tipo de alergia e a sensibilidade de cada indivíduo, podendo ser leves ou bastante graves.
As alergias não são contagiosas e podem surgir em qualquer fase da vida, mesmo em indivíduos que nunca apresentaram sintomas antes. Fatores genéticos, ambientais e o acúmulo de exposições ao longo do tempo podem influenciar no desenvolvimento dessas reações, que surgem quando o sistema imunológico passa a interpretar determinadas substâncias como ameaças.
Quais são os tipos mais comuns de alergia?
As alergias podem se manifestar de várias formas e afetar diferentes partes do corpo. Veja os principais tipos.
Alergia respiratória
A alergia respiratória inclui condições como a rinite alérgica e a asma de origem alérgica, que estão entre as formas mais comuns de manifestação alérgica. Segundo a ASBAI, calcula-se que cerca de 10% dos brasileiros tenham asma e 30% apresentam rinite alérgica.
Os principais gatilhos dessas doenças são substâncias inaladas presentes no ambiente, como poeira doméstica, ácaros, mofo, poluição do ar, pelos de animais, fumaça de cigarro e pólen. Essas partículas, ao serem inaladas por pessoas sensíveis, desencadeiam uma resposta inflamatória nas vias respiratórias, provocando sintomas como espirros, congestão nasal, tosse, chiado e dificuldade para respirar.
As mudanças climáticas também influenciam o agravamento das doenças alérgicas, especialmente as respiratórias. Eventos extremos como ondas de calor, longos períodos de seca e tempestades intensas afetam a qualidade do ar e aumentam a exposição a alérgenos, contribuindo para o aumento da prevalência e gravidade de quadros como rinite alérgica e asma.
A combinação entre poluição atmosférica e alterações nos padrões de temperatura e umidade intensifica a sensibilização a polens, mesmo em regiões tropicais. Crianças, idosos, gestantes e populações vulneráveis são os mais afetados, com maior risco de internações e atendimentos de emergência por problemas respiratórios.
Alergia alimentar
Na maioria dos casos de alergia alimentar, o organismo reage a determinadas proteínas presentes nos alimentos. Entre os alérgenos mais comuns estão:
- leite de vaca;
- ovos;
- amendoim;
- frutos do mar;
- soja.
Especialistas da área da saúde e estudos têm apontado uma ligação entre o aumento das alergias – especialmente alimentares e respiratórias – e o consumo crescente de alimentos ultraprocessados. A presença de aditivos químicos como corantes, conservantes e realçadores de sabor pode provocar respostas inflamatórias e desequilíbrios no sistema imunológico, favorecendo reações alérgicas.
Os sintomas mais comuns da alergia alimentar incluem urticária, inchaço nos lábios ou olhos, náuseas, vômitos, cólicas intestinais e diarreia. Em casos mais graves, pode ocorrer anafilaxia — uma reação alérgica aguda que se desenvolve rapidamente e afeta várias partes do corpo ao mesmo tempo. Ela pode causar falta de ar, queda de pressão arterial, inchaço na garganta e risco de parada cardíaca. Por isso, é considerada uma emergência médica e exige atendimento imediato.
Alergia medicamentosa
Alguns medicamentos podem desencadear reações alérgicas, seja pela substância ativa ou pelos excipientes (substâncias auxiliares presentes na fórmula).
Os sintomas podem variar de leves a graves, incluindo erupções cutâneas, coceira, inchaço em diferentes partes do corpo, febre e dificuldade para respirar. Em situações mais severas, a reação pode evoluir para um quadro de anafilaxia.
Dermatite alérgica de contato
A dermatite de contato é uma inflamação da pele que ocorre quando há exposição direta a substâncias irritantes ou alérgenos, como níquel (presente em bijuterias), cosméticos, perfumes e produtos de limpeza. Os sintomas mais comuns incluem vermelhidão, coceira, inchaço, bolhas, descamação e ressecamento da pele na área afetada.
Essas reações podem surgir algumas horas ou dias após o contato com o agente causador e a intensidade varia de acordo com a sensibilidade individual.
Alergia a picadas de insetos
Pessoas alérgicas a venenos de insetos — como abelhas, vespas e formigas — podem desenvolver reações que vão de leves a graves. Os sintomas típicos incluem inchaço e dor no local da picada, coceira intensa, vermelhidão, e, em alguns casos, anafilaxia.
Alergia é doença crônica?
Sim. As alergias são classificadas como doenças crônicas, ou seja, que não têm cura definitiva, mas podem ser controladas. A boa notícia é que, com acompanhamento médico e hábitos preventivos, é possível reduzir significativamente a frequência e a intensidade das crises.
Para que isso seja possível, é essencial identificar corretamente a condição. Muitas pessoas confundem alergia com resfriado ou gripe, o que pode atrasar o início do tratamento adequado. Um sinal de alerta importante é a repetição dos sintomas, principalmente em determinadas épocas do ano ou após exposição a certos ambientes ou alimentos.
Como é feito o diagnóstico de alergias?
Identificar corretamente o tipo de alergia é fundamental para iniciar um tratamento adequado e evitar complicações. O diagnóstico deve ser feito por um profissional especializado (o alergista ou imunologista) e inclui uma avaliação clínica detalhada, considerando: histórico do paciente, sintomas recorrentes e possíveis gatilhos ambientais, alimentares ou químicos.
Entre os exames mais comuns estão:
- Testes cutâneos (prick test): pequenas quantidades de alérgenos são aplicadas na pele, geralmente do antebraço, para verificar reações locais.
- Testes de contato: aplicados em casos de dermatite de contato, identificam substâncias que causam reação na pele após exposição prolongada.
- Dosagem de IgE específica: exame de sangue que mede a presença de anticorpos específicos contra determinados alérgenos.
- Teste de provocação oral ou nasal: realizado em ambiente hospitalar, expõe o paciente ao alérgeno de forma controlada para confirmar a reação (usado principalmente para alergias alimentares ou medicamentosas).
Para quem desconfia de alergia, mas não tem certeza, vale o alerta: é importante evitar a automedicação ou suposições baseadas apenas em sintomas isolados. O diagnóstico incorreto pode atrasar o tratamento e até agravar o quadro alérgico.
Quais são os tratamentos disponíveis?
O tratamento das alergias envolve três pilares principais: evitar o contato com os alérgenos, controlar os sintomas com medicamentos receitados pelo médico e, quando indicado, realizar imunoterapia.
Imunoterapia (vacinas de alergia)
Indicada principalmente para alergias respiratórias, picadas de insetos e alergia de pele, a imunoterapia consiste na administração progressiva de doses do alérgeno, com o objetivo de “treinar” o sistema imunológico a não reagir exageradamente.
O tratamento, normalmente, é de longo prazo (geralmente 3 a 5 anos), e pode reduzir ou eliminar a necessidade de medicamentos em muitos casos.
Como prevenir crises alérgicas no dia a dia?
Embora nem sempre seja possível eliminar completamente o contato com os alérgenos, adotar hábitos preventivos pode reduzir significativamente o número e a intensidade das crises. Veja algumas medidas simples que fazem diferença:
Para alergias respiratórias
- Manter os ambientes ventilados e limpos.
- Evitar acúmulo de poeira, carpetes e cortinas grossas.
- Lavar roupas de cama semanalmente em água quente.
- Evitar exposição a fumaça de cigarro, mofo e cheiros fortes.
Para alergias alimentares
- Ler atentamente os rótulos de alimentos industrializados.
- Informar sobre restrições ao comer fora de casa.
- Manter uma lista dos alimentos a evitar sempre acessível.
- Ter um plano de ação em caso de ingestão acidental (sob orientação médica).
Para alergias de contato
- Escolher produtos de higiene e limpeza hipoalergênicos.
- Usar luvas ao manusear produtos químicos.
- Evitar uso de bijuterias com níquel, se houver sensibilidade.
Para picadas de inseto
- Usar repelentes e roupas protetoras em áreas de risco.
- Evitar perfumes e roupas coloridas que atraem insetos.
- Manter distância de colmeias, formigueiros e lixeiras abertas.
Impactos das doenças alérgicas
As doenças alérgicas, como a asma e a rinite alérgica, são condições crônicas que afetam significativamente a qualidade de vida e a produtividade dos indivíduos. No Brasil, a asma é responsável por aproximadamente 350 mil internações hospitalares por ano, sendo uma das principais causas de hospitalizações no Sistema Único de Saúde (SUS).
Por vezes, esses impactos não se restringem ao paciente. Em casos como a alergia alimentar, por exemplo, o risco constante de reações graves e a vigilância contínua para evitar a exposição a alérgenos geram tensão emocional não só no indivíduo, mas também em seus familiares. Essas situações estão associadas a níveis mais elevados de ansiedade, angústia e queda na qualidade de vida tanto dos pacientes quanto de quem cuida deles.
Convivendo com alergias: é possível ter qualidade de vida
Apesar dos desafios, é possível conviver com alergias mantendo uma rotina saudável. Diagnóstico correto, acompanhamento médico e adesão ao tratamento também são fundamentais para que isso aconteça. A informação ainda é uma das principais ferramentas de prevenção: conhecer os gatilhos e aprender a evitá-los é tão importante quanto saber como agir diante de uma crise.
O Dia Mundial da Alergia é mais do que uma data simbólica: é um chamado à conscientização, ao diagnóstico precoce e ao tratamento correto. As alergias podem ser silenciosas e, quando ignoradas ou desconhecidas, prejudicam a saúde física e mental, interferem na rotina e até colocam vidas em risco.
Entretanto, quando bem controladas, as reações alérgicas podem ser prevenidas, minimizadas e até superadas com o tempo. A chave está na informação, no cuidado e na responsabilidade com a própria saúde.
Aproveite o Dia Mundial da Alergia para conscientizar mais pessoas sobre o tema. Compartilhe este conteúdo!