Popularmente conhecida como “pressão alta”, a hipertensão arterial é uma doença crônica não transmissível, geralmente assintomática e de origem multifatorial, sendo influenciada por fatores como idade, etnia, genética e estilo de vida. Sua presença aumenta significativamente o risco de doenças cardiovasculares, sendo uma das principais responsáveis por mortes prematuras, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Estima-se que, nas últimas quatro décadas, o número de pessoas diagnosticadas com hipertensão tenha aumentado 90%, atingindo cerca de um terço da população brasileira.
A hipertensão é caracterizada pelo aumento da pressão arterial acima dos níveis de 140×90 mmHg ou 14/9, que correspondem à força exercida pelo coração e pelas paredes dos vasos sanguíneos para impulsionar o sangue pelo corpo. Quando essa pressão se mantém elevada por longos períodos, pode causar danos ao coração, aos vasos sanguíneos e a outros órgãos, como rins, cérebro e retina.
O diagnóstico deve ser feito por um profissional da saúde, com a medição da pressão arterial em, pelo menos, dois momentos diferentes. O diagnóstico definitivo é confirmado através do exame de monitorização ambulatorial da pressão arterial (MAPA). Abaixo, segue a tabela com a classificação da pressão arterial conforme o valor aferido.
Devido à natureza assintomática da hipertensão, muitas pessoas desconhecem que sofrem da condição, o que dificulta tanto o diagnóstico quanto o controle. O primeiro sinal de alerta geralmente ocorre quando os problemas decorrentes da hipertensão começam a aparecer, ou quando os níveis de pressão arterial estão muito elevados, podendo ser acompanhados de sintomas como dores de cabeça, alterações na visão, náuseas e vômitos. Por isso, é fundamental que a pressão arterial seja medida nas consultas de rotina, especialmente para pessoas com histórico familiar de hipertensão ou outras doenças relacionadas, como obesidade, diabetes mellitus e dislipidemia. Além disso, é importante incentivar práticas preventivas.
Prevenção e Mudanças no Estilo de Vida
Embora os medicamentos sejam aliados eficazes no tratamento da hipertensão, com resultados comprovados e poucos efeitos colaterais, uma parte significativa do tratamento depende das mudanças no estilo de vida, que impactam diretamente as causas do aparecimento da hipertensão.
As principais mudanças incluem o controle do peso para indivíduos com sobrepeso ou obesidade, a cessação do tabagismo, a redução do consumo de álcool, a prática regular de atividades físicas, o controle da ansiedade e do estresse, e uma alimentação saudável.
Alimentação e Hipertensão
Alimentos e nutrientes têm grande influência na pressão sanguínea e também contribuem de forma significativa para outros fatores de risco, como excesso de peso, diabetes mellitus e hipercolesterolemia.
A principal recomendação para a prevenção e o tratamento da hipertensão é adotar um padrão alimentar saudável, com ênfase no consumo de frutas, vegetais, alimentos integrais, peixes, e redução do consumo de açúcar, sódio e gorduras saturadas.
Existem diversas dietas recomendadas para o controle da hipertensão, como:
- DASH (Dietary Approaches to Stop Hypertension): Esta dieta enfatiza o consumo de frutas, vegetais, grãos integrais, peixes, nozes e alimentos com baixo teor de gordura. Estudos mostram que seus efeitos estão relacionados principalmente à redução do índice de massa corporal (IMC), além de fornecer nutrientes como cálcio, magnésio, fibras e potássio.
- Dieta Mediterrânea: Similar à dieta DASH, a dieta mediterrânea estimula o consumo de peixes e alimentos ricos em gorduras insaturadas, como oleaginosas e azeite de oliva.
- Dieta Vegetariana: Ao priorizar alimentos ricos em fibras (como frutas, legumes e verduras) e reduzir o consumo de alimentos de origem animal, essa dieta também ajuda a diminuir a ingestão de gordura saturada, especialmente a encontrada em carnes vermelhas.
Consumo de Sódio
O consumo excessivo de sódio está fortemente associado ao aumento da pressão arterial. O sódio pode aumentar a retenção de líquidos, elevando o volume sanguíneo e, consequentemente, a pressão arterial. A redução do consumo de sódio para 1,8g/dia pode ser suficiente para diminuir a pressão sistólica em até 5,4 mmHg. Esse valor equivale a 5g de sal por dia.
Uma forma eficaz de reduzir o sódio na alimentação é evitar o sal de mesa e priorizar o uso de temperos naturais, além de evitar alimentos ultraprocessados e prestar atenção aos rótulos, especialmente em relação ao teor de sódio.
Potássio
O potássio pode ajudar a controlar a pressão arterial, neutralizando o excesso de sódio, facilitando a eliminação de líquidos pelos rins e melhorando a flexibilidade dos vasos sanguíneos, reduzindo a resistência vascular. A OMS recomenda uma ingestão mínima de 3,5g de potássio por dia para adultos, podendo ser maior para pessoas com hipertensão, desde que não haja contraindicações médicas, como problemas renais.
Alguns alimentos ricos em potássio incluem:
- Batata
- Banana
- Espinafre
- Abacate
- Kiwi
- Cenoura
- Melancia
- Nozes
É importante ter atenção ao modo de preparo dos alimentos, pois o potássio se perde na água de cocção. Fatores como tempo de cozimento, temperatura, tipo de recipiente e até o uso do micro-ondas podem influenciar a concentração de potássio nos alimentos.
Dieta Cardioprotetora no Brasil
No Brasil, existe uma abordagem alimentar cardioprotetora conhecida como Dica BR, que é composta por alimentos tipicamente brasileiros e segue as recomendações do Guia Alimentar para a População Brasileira. Ela é representada pela bandeira do Brasil e dividida em grupos coloridos. Os grupos com cores predominantes indicam alimentos que devem ser consumidos com maior frequência, enquanto o grupo vermelho é composto por alimentos que devem ser evitados.
- Grupo Verde: Alimentos cardioprotetores, ricos em nutrientes como vitaminas, minerais, fibras e antioxidantes. Exemplos: verduras, frutas, leguminosas, leite e iogurtes desnatados.
- Grupo Amarelo: Alimentos com maior quantidade de calorias, gordura e sal. Devem ser consumidos com moderação. Exemplos: pães, cereais, macarrão, tubérculos, farinhas, oleaginosas, óleos, vegetais, mel e doces processados (como marmelada, bananinha, goiabada, cocada, etc.).
- Grupo Azul: Alimentos ricos em gordura saturada, sal e colesterol, devendo ser consumidos em menor quantidade. Exemplos: carnes, queijos, ovos, manteigas, creme de leite, leite condensado, doces preparados (como bolos, tortas, mousses, etc.).
- Grupo Vermelho: Alimentos ultraprocessados que devem ser evitados devido ao alto teor de aditivos químicos, como conservantes, corantes e estabilizantes. Também contêm grandes quantidades de gordura hidrogenada, açúcar e sódio. Exemplos: macarrão instantâneo, salgadinhos, bolachas, embutidos, refrigerantes, sucos industrializados, linguiça, salsicha, nuggets, molhos industrializados, sorvete, achocolatado, refeições congeladas (como lasanha), entre outros.
As proporções desses grupos nas refeições seguem a figura a seguir, com exemplos.
PROPORÇÃO DO GRUPOS NAS REFEIÇÕES
EXEMPLOS NAS REFEIÇÕES
Escrito por: Nathália Moraes Venâncio Costa / CRN 45.312, Nutricionista formada pela Universidade de São Paulo (USP) e pós-graduação em Conduta Prática em Nutrição Esportiva, Fitoterapia e Nutrição Funcional pelo GANEP e Nutrição Esportiva pelo CEFIT.
BIBLIOGRAFIA
- NUTRITOTAL. A alimentação pode prevenir a hipertensão arterial. Disponível em: https://nutritotal.com.br/pro/a-alimentacao-pode-prevenir-a-hipertensao-arterial/. Acesso em: 20 mar. 2025.
- NUTRITOTAL. Dieta DASH e hipertensão. Disponível em: https://nutritotal.com.br/pro/dieta-dash-hipertensao/. Acesso em: 20 mar. 2025.
- CONSELHO REGIONAL DE NUTRICIONISTAS DA 8ª REGIÃO (CRN-8). Alimentação saudável e acompanhamento nutricional são indispensáveis no combate à hipertensão. Disponível em: https://crn8.org.br/alimentacao-saudavel-e-acompanhamento-nutricional-sao-indispensaveis-no-combate-a-hipertensao/. Acesso em: 20 mar. 2025.
- SOCIEDADE DE CARDIOLOGIA DO ESTADO DE SÃO PAULO (SOCESP). Quando o assunto é hipertensão, a alimentação é uma grande aliada. Disponível em: https://socesp.org.br/noticias/nutricao/quando-o-assunto-e-hipertensao-a-alimentacao-e-uma-grande-aliada/. Acesso em: 20 mar. 2025.
- SOCIEDADE BRASILEIRA DE HIPERTENSÃO (SBH). Revista Hipertensão. Vol. 24, nº 1, 2022. Artigo 6. Disponível em: https://www.sbh.org.br/wp-content/uploads/2022/06/Revista-Hipertensao-Vol-24-Num-1-Artigo-6.pdf. Acesso em: 20 mar. 2025.
- CONSELHO REGIONAL DE NUTRICIONISTAS DA 2ª REGIÃO (CRN-2). Hipertensão arterial sistêmica e nutrição. Disponível em: https://www.crn2.org.br/noticia/view/110/hipertensao-arterial-sistemica-e-nutricao. Acesso em: 20 mar. 2025.
- MINISTÉRIO DA SAÚDE. Alimentação saudável é aliada no combate à hipertensão. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-brasil/eu-quero-me-alimentar-melhor/noticias/2018/alimentacao-saudavel-e-aliada-no-combate-a-hipertensao. Acesso em: 20 mar. 2025.
- BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Alimentação cardioprotetora. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/alimentacao_cardioprotetora.pdf. Acesso em: 20 mar. 2025.