Healthspan vs lifespan: qual é a diferença?
A expectativa de vida nunca foi tão alta, mas isso não significa que estamos envelhecendo com qualidade. É aqui que entra a diferença entre healthspan e lifespan.
Enquanto o lifespan mede quantos anos vivemos, o healthspan avalia quantos desses anos conseguimos viver com autonomia, bem-estar e sem doenças crônicas limitantes. Reduzir a distância entre esses dois indicadores é cada vez mais relevante. Afinal de contas, não basta viver mais, é preciso viver melhor também.
Quer entender melhor esses conceitos e ainda conferir boas práticas que vão te ajudar a aumentar a longevidade e ainda melhorar a qualidade de vida? Então, continue a leitura. Neste artigo, explicamos detalhadamente a diferença entre lifespan e healthspan, e apresentamos as principais recomendações de saúde.
O que é healthspan?
Em um século, a expectativa de vida mundial aumentou de 47 para 73 anos, graças a avanços na medicina e nas condições de vida, de acordo com dados da Organização Mundial de Saúde (OMS). No entanto, viver mais não significa necessariamente viver melhor. Muitas pessoas passam os anos adicionais com baixa qualidade de vida.
Diante desse cenário, surge o conceito de healthspan (em tradução livre, “tempo de vida saudável”), que enfatiza não apenas quantos anos vivemos, mas como vivemos esses anos, com foco no bem-estar durante o envelhecimento.
Healthspan é um termo usado para representar o período da vida em que a pessoa está saudável, sem doenças crônicas ou incapacidades que prejudiquem sua qualidade de vida. Em termos de saúde pública, é comum usar o indicador “expectativa de vida saudável” para estimar quantos anos, em média, uma pessoa pode esperar viver com boa saúde e autonomia.
O que é lifespan?
O lifespan se refere ao tempo total de vida, podendo ser interpretado como um conceito que representa longevidade ou expectativa. Na tradução literal, o termo significa “vida útil” e é aplicado a diferentes situações (como a durabilidade de um bem material).
Quando relacionado ao envelhecimento, o lifespan representa quantos anos vivemos, mas não diz nada sobre as condições de saúde durante esse tempo. Apesar disso, é um conceito relevante que, estatisticamente, é acompanhado para compreensão de desafios demográficos e sociais, servindo de parâmetro para formulação de políticas públicas em áreas como saúde, previdência, lazer, assistência social, entre outras.
Historicamente, a medicina e a sociedade concentraram esforços em estender o lifespan com o objetivo de reduzir a mortalidade e aumentar o número de anos de vida. De fato, a vida humana foi drasticamente prolongada ao longo do último século.
No início do século 20, países industrializados tinham uma expectativa de vida de 47 anos. O Brasil, nesse período, a longevidade média chegava a 33 anos.
De acordo com dados da OMS, a média global era de 73 anos, em 2019. Mas há variações entre os países. O Japão, por exemplo, tem a maior longevidade, passando dos 84 anos. A expectativa de vida mais baixa é a de Lesoto, na África, com 51 anos. No caso do Brasil, os dados da OMS indicavam 75 anos, naquele ano.
De acordo com dados mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a expectativa média de vida dos brasileiros passou dos 76 anos, em 2023. Existem diferenças em relação ao sexo: as mulheres têm uma projeção de superar os 79 anos enquanto os homens têm a perspectiva de chegar aos 73 anos.
Qual a diferença entre healthspan e lifespan?
A diferença básica entre healthspan e lifespan está na relação entre quantidade e qualidade. O lifespan foca na quantidade de anos vividos, demonstrando a extensão da vida em números. Já o healthspan foca na qualidade desses anos, ou seja, nos anos vividos com saúde e vitalidade.
Em muitos países, há uma lacuna significativa entre o tempo de vida total e o tempo de vida saudável, frequentemente uma década ou mais de saúde precária no fim da vida. No exemplo do Brasil, embora o brasileiro viva em média 76 anos, cerca de 11 desses anos finais são vividos com alguma doença crônica ou incapacidade, segundo a OMS.
Isso evidencia que estender a vida (aumentar o lifespan) sem melhorar a saúde nesses anos resulta em pessoas que “sobrevivem” mais, porém com limitações que comprometem seu bem-estar. Portanto, há uma preocupação crescente em prolongar a vida, garantindo que os anos extra sejam vividos nas melhores condições possíveis.
Em outras palavras, idealmente queremos aumentar ambos: a longevidade e os anos vividos com saúde. É por isso que organizações internacionais têm dado atenção especial ao tema. A ONU declarou 2021–2030 como a Década do Envelhecimento Saudável, com o objetivo de fortalecer o compromisso com a qualidade de vida durante o envelhecimento.
Healthspan vs lifespan: como viver mais e melhor?
Diversos estudos e diretrizes de saúde pública apontam um conjunto de hábitos benéficos que podem prolongar tanto o lifespan quanto o healthspan da população em geral. Essas práticas englobam desde cuidados com a alimentação e atividade física até evitar fatores de risco como tabagismo e consumo excessivo de álcool.
A seguir, apresentamos um conjunto de bons hábitos associados ao aumento da qualidade de vida, de acordo com pesquisas, estudos e protocolos de saúde.
Alimentação saudável e balanceada
Manter uma alimentação equilibrada ao longo da vida é uma das estratégias mais eficazes para prevenir doenças crônicas e aumentar a longevidade. Segundo a OMS, uma dieta nutritiva ajuda a proteger contra a desnutrição em todas as suas formas e contra doenças não transmissíveis como diabetes, doenças cardiovasculares, AVC e câncer.
A recomendação geral é consumir pelo menos 5 porções (400 g) de frutas, legumes e verduras por dia. Esses alimentos fornecem fibras, vitaminas e antioxidantes que reforçam a imunidade e ajudam a prevenir obesidade, hipertensão arterial e diabetes. A OMS também recomenda limitar o sal a menos de 5 g por dia (para prevenir hipertensão) e os açúcares livres a menos de 10% das calorias ingeridas (idealmente em até 5%).
No Brasil, o Guia Alimentar para a População Brasileira orienta preferir alimentos naturais e evitar ultraprocessados (como refrigerantes, salgadinhos, embutidos), assim como moderar óleos, gorduras, sal e açúcar na culinária.
Atividade física regular
A prática regular de atividade física é outro hábito importante para estender os anos de vida saudáveis. O sedentarismo é considerado como um dos principais fatores de mortalidade global pela OMS. Estima-se que, globalmente, a inatividade esteja ligada a cerca de 5 milhões de mortes por ano que poderiam ser evitadas se a população fosse mais ativa.
Em contrapartida, ser fisicamente ativo reduz o risco de doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2, alguns cânceres, depressão e declínio funcional. As diretrizes internacionais orientam que adultos devem praticar pelo menos 150 a 300 minutos semanais de atividade aeróbica moderada ou 75 a 150 minutos de atividade vigorosa, ou uma combinação equivalente. Essa é a recomendação adotada pela OMS e pelo Ministério da Saúde do Brasil.
Atividades simples como caminhadas rápidas, pedaladas ou dança, quando realizadas de forma contínua e regular, já contribuem para atingir essa meta. Além disso, é aconselhado incluir exercícios de fortalecimento muscular em 2 dias da semana.
O impacto positivo de cumprir essas recomendações é significativo. Um amplo estudo internacional comprova que praticar de 150 min a 300 minutos de exercícios moderados por semana reduz o risco de mortalidade em aproximadamente 16% entre jovens adultos (20 a 29 anos) e em cerca de 22% para pessoas acima dos 80 anos.
Para garantir todos esses benefícios, busque orientação médica antes de iniciar a prática de atividades físicas mais intensas. Essa orientação é ainda mais importante para pessoas que estão sedentárias há muito tempo ou que já têm problemas de saúde.
Não fumar
O tabagismo é apontado pela OMS como a principal causa evitável de mortes no mundo. Fumar mata mais de 8 milhões de pessoas por ano globalmente (sendo aproximadamente 7 milhões por uso direto e 1,2 milhão por fumo passivo).
Estatísticas do Ministério da Saúde mostram, por exemplo, que fumantes têm risco 10 vezes maior de câncer de pulmão, 5 vezes maior de infarto do miocárdio e de doença pulmonar obstrutiva crônica, e 2 vezes maior de derrame cerebral em comparação com não fumantes. Ou seja, além de reduzir a expectativa de vida (lifespan), o cigarro compromete seriamente a qualidade de vida (healthspan).
A Organização Pan Americana de Saúde (OPAS) destaca que parar de fumar traz benefícios imediatos e progressivos em qualquer idade. Após poucas horas sem cigarro, já ocorrem melhorias na frequência cardíaca, pressão arterial e oxigenação sanguínea. Dentro de 1 a 2 anos, o risco de doença coronariana cai pela metade; em 5 anos, o risco de AVC pode se igualar ao de um não fumante; em 10 anos, a mortalidade por câncer de pulmão reduz-se em cerca de 50%. A longo prazo, alguém que deixa o cigarro antes dos 40 anos reduz em cerca de 90% seu risco de morte relacionada ao tabagismo.
Mesmo cessando mais tarde há ganhos significativos. Ainda de acordo com a Opas, parar por volta dos 30 anos pode render quase 10 anos extras de expectativa de vida; aos 40 anos, cerca de +9 anos; aos 50, +6 anos; e aos 60, +3 anos. Em outras palavras, nunca é tarde para parar e essa atitude aumenta a longevidade em qualquer fase.
Manutenção do peso saudável
Manter um peso corporal adequado ao longo da vida está diretamente ligado a maior longevidade e menor incidência de enfermidades crônicas. A referência internacionalmente adotada é o Índice de Massa Corporal (IMC), que deve ficar entre 18,5 e 24,9.
Um amplo estudo publicado na Lancet quantificou o impacto na longevidade: pessoas com sobrepeso (IMC 25–29,9) perdem em média cerca de 1 ano de vida em comparação a indivíduos de peso normal; já a obesidade moderada (IMC 30–34,9) acarreta perda de aproximadamente 3 anos; e a obesidade severa (IMC ≥35) pode encurtar a vida em até 8 a 10 anos, uma redução similar aos efeitos do tabagismo.
Para o indivíduo, as boas práticas para manter o peso saudável convergem com as já mencionadas: alimentação balanceada e atividade física regular. Dietas ricas em alimentos naturais e controle de porções previnem ganho de peso excessivo; exercitar-se queima calorias e preserva a massa muscular. Além disso, monitorar periodicamente peso e circunferência abdominal, e procurar auxílio profissional (nutricionista, endocrinologista) em caso de ganho contínuo, são medidas importantes.
Sono de qualidade
O sono adequado (em quantidade e qualidade) ajuda a regular praticamente todas as funções fisiológicas e mentais, impactando diretamente a saúde a longo prazo. A maioria dos adultos necessita em torno de 7 a 9 horas de sono por noite para uma recuperação ideal do organismo, de acordo com o Ministério da Saúde.
Tanto a privação de sono crônica quanto o sono excessivo têm sido associados a maiores riscos de morbidade e mortalidade. Uma meta-análise que acompanhou 1,38 milhão de pessoas observou que dormir muito pouco (geralmente menos de 6 horas por noite) estava ligado a um aumento de cerca de 12% no risco de morte por todas as causas; já dormir demais (acima de 9 a 10 horas) é uma prática correlacionada a um aumento de 30% na mortalidade, aproximadamente.
Por que o sono afeta a longevidade? Durante o sono, o corpo realiza reparos celulares, consolidação de memória, regulação hormonal e limpeza de toxinas cerebrais.
Quando dormimos mal ou pouco, ocorrem alterações metabólicas (incluindo maior liberação de cortisol e grelina), inflamação sistêmica e piora da função imunológica. De acordo com entidades especializadas, como Associação Brasileira do Sono e a Sociedade Mundial do Sono (World Sleep Society), a insônia crônica predispõe a várias doenças: hipertensão, obesidade (o déficit de sono altera a saciedade), diabetes, depressão, infarto, AVC e até demências. Adicionalmente, o cansaço diurno aumenta o risco de acidentes de trânsito e trabalho, causas de mortalidade prematura.
Saúde mental e controle do estresse
O bem-estar mental é um componente essencial da saúde, e seu impacto sobre o lifespan e healthspan vem sendo cada vez mais evidenciado. Estados de estresse crônico, ansiedade e depressão podem afetar o organismo de forma semelhante a outros fatores de risco clássicos, aumentando a vulnerabilidade a doenças cardiovasculares, infecciosas e até neoplasias, além de comprometer a qualidade de vida.
Estudos populacionais ligam, por exemplo, a depressão a um aumento significativo na mortalidade por todas as causas. Um levantamento nos EUA indicou que indivíduos com depressão e/ou ansiedade clinicamente relevantes morrem em média 7,9 anos mais cedo que aqueles sem esses transtornos, e cerca de 3,5% de todas as mortes poderiam ser atribuídas a esses problemas de saúde mental.
Existem diversas estratégias eficazes de gerenciamento do estresse e cuidado mental. Atividade física regular, já citada, também beneficia a mente – exercícios liberam endorfinas e reduzem sintomas de ansiedade e depressão. Práticas de relaxamento e mindfulness (meditação, ioga, respiração profunda) comprovadamente diminuem os níveis de cortisol e melhoram marcadores de inflamação.
Manter hobbies e momentos de lazer, cultivar uma atitude de gratidão ou espiritualidade, e buscar suporte psicológico quando necessário são outras medidas que promovem resiliência ao estresse. O equilíbrio trabalho-vida também é importante: evitar jornadas excessivas, tirar férias e desconectar-se de vez em quando ajudam a “recarregar as baterias”.
O Ministério da Saúde brasileiro e a OPAS incentivam programas e ações voltados à saúde mental, como campanhas de prevenção do suicídio (Setembro Amarelo) e ampliação dos CAPS (Centros de Atenção Psicossocial). É importante não negligenciar sintomas psíquicos: tratar depressão e ansiedade além de prevenir complicações de saúde torna a vida melhor, contribuindo para a sensação de bem-estar.
Relacionamentos sociais
Os laços sociais que cultivamos com família, amigos e a comunidade têm influência marcante sobre a saúde e a longevidade. Ser socialmente conectado e ter apoio emocional está associado a melhor qualidade de vida e menor risco de adoecimento à medida que envelhecemos. Por outro lado, a solidão e o isolamento social crônicos podem prejudicar tanto quanto outros fatores de risco médicos.
Uma meta-análise com múltiplos estudos concluiu que pessoas socialmente isoladas apresentam um risco aproximadamente 29% a 32% maior de mortalidade por todas as causas, comparadas às bem integradas socialmente.
Conforme esclarece o portal Vida Saudável, mantido pelo Einstein Hospital Israelista, o isolamento prolongado ativa mecanismos de estresse no organismo: aumenta a atividade do sistema nervoso simpático e níveis de cortisol, gerando alterações cardiovasculares e imunológicas similares às do estresse crônico. Idosos solitários têm mais chances de desenvolver hipertensão, depressão e declínio cognitivo.
Em contrapartida, boas relações sociais agem como fator protetor. De acordo com um estudo de Harvard sobre desenvolvimento adulto, que acompanha participantes há quase 80 anos, cultivar relacionamentos positivos é um dos elementos-chave para a longevidade e felicidade na vida.
Cuidados preventivos de saúde
Além de escolhas de estilo de vida, medidas preventivas de saúde oferecidas pela medicina têm enorme impacto em prolongar a vida e preservar a saúde. Dois exemplos principais são a vacinação e os exames de rastreamento (check-ups periódicos).
A vacinação é considerada uma das intervenções de saúde pública de maior sucesso da história. A imunização sistemática salva de 2 a 3 milhões de vidas todos os anos no mundo, protegendo contra doenças infecciosas potencialmente letais como difteria, tétano, coqueluche, influenza, sarampo, poliomielite, COVID-19, entre outras.
Vacinar-se conforme o calendário (incluindo vacinas infantis, reforços na adolescência e imunizações na vida adulta como gripe anual, hepatite, febre amarela em áreas recomendadas, e vacinas para idosos como pneumo e herpes-zóster) prolonga o lifespan ao prevenir mortes, e aumenta o healthspan ao evitar sequelas e complicações de doenças.
Sobre esse assunto, é necessário ressaltar que as vacinas disponíveis são extremamente seguras. O Ministério da Saúde esclarece que eventos adversos graves são raríssimos e os benefícios em termos de vidas salvas superam quaisquer riscos.
Já os check-ups e rastreamento garantem a detecção precoce de doenças, o que é essencial para tratá-las em estágios iniciais, evitando mortes prematuras ou complicações. Isso se aplica tanto a doenças crônicas comuns (hipertensão, diabetes, dislipidemia) quanto a vários tipos de câncer.
Check-ups clínicos regulares também possibilitam identificar e manejar fatores de risco “silenciosos”. Por exemplo, muitos indivíduos não sabem que têm pressão alta ou glicemia elevada até fazerem um exame de rotina.
Exames de sangue periódicos podem apontar deficiências ou problemas no fígado e rins; avaliações como densitometria óssea em idosos previnem fraturas por osteoporose através de tratamentos precoces. Também faz parte dos cuidados preventivos manter consultas odontológicas (saúde bucal precária pode levar a infecções sérias e está ligada a problemas cardíacos). Outra recomendação essencial é acompanhar e corrigir problemas de visão e de audição que, além de impactar a qualidade de vida, podem acelerar o declínio cognitivo.
Lifespan vs healthspan, na prática, é só um termo para mostrar que nem sempre viver mais significa ter maior qualidade de vida. Porém, ao adotar boas práticas, como as que são recomendadas internacionalmente, conseguimos aumentar tanto a longevidade quanto o bem-estar ao longo dos anos (e que eles sejam bem vividos, certo?!).
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