A indústria farmacêutica avança para 2026 diante de um conjunto de tendências que redefine prioridades, investimentos e modelos de inovação. O setor passa a operar a partir de uma lógica mais integrada, centrada na geração de valor em saúde e guiada, principalmente, por transformações científicas e tecnológicas.
A velocidade do desenvolvimento biotecnológico, o uso crescente de inteligência artificial (IA) e a necessidade de instituir sistemas produtivos mais resilientes colocam o setor diante de decisões estratégicas que vão além de pesquisa e desenvolvimento. A seguir, apresentamos as tendências que devem influenciar os rumos da indústria farmacêutica em 2026.
1. Medicina personalizada e farmacogenômica
A medicina personalizada se aproxima, cada vez mais, da indústria farmacêutica e passa a orientar a agenda de inovação. A combinação entre avanços científicos e tecnológicos cria condições técnicas para o desenvolvimento de terapias específicas de acordo com características genéticas, metabólicas e celulares.
Três pilares principais fundamentam essa tendência:
- Sequenciamento genômico e ciências ômicas
A personalização é favorecida pela evolução no campo da genética e das ciências ômicas (que estudam diferentes tipos de moléculas biológicas, com destaque para genômica, transcriptômica, proteômica e metabolômica). As metodologias nessa área possibilitam identificar variáveis biológicas associadas a risco, resposta ao tratamento e efeitos adversos, aspectos que impactam o desenvolvimento de novos fármacos.
- IA aplicada à modelagem biológica
O uso intensivo de inteligência artificial acelera o processo de correlações entre dados clínicos, perfis genéticos e simulações de resposta farmacológica. Essa capacidade projeta a personalização como uma prática economicamente viável, especialmente em doenças com alto grau de variabilidade clínica. Isso favorece o sistema terapêutico mais individualizado e orientado por dados.
- Terapias celulares
A combinação entre genômica e modelagem celular amplia as possibilidades de personalização. Entre os avanços mais recentes nessa área, destacam-se as terapias celulares para tratamento de doenças como câncer e diabetes.
Todo esse contexto dá sustentação, por exemplo, ao crescimento da farmacogenômica (fabricação de medicamentos genômicos), que deve chegar a US$ 3,46 bilhões em 2025, com projeção de alcançar US$ 6,66 bilhões até 2032, segundo a Fortune Business Insights.
2. Inteligência Artificial
Entre as novas tecnologias que estão transformando a indústria farmacêutica, as atenções ainda se voltam para a inteligência artificial. De acordo com um levantamento realizado pela Transparency Market Research, o mercado de IA para as indústrias farmacêutica e biotecnológica deve crescer a uma taxa anual de 18,8%, saltando de US$ 1,8 bilhão em 2023 para US$ 13,1 bilhões em 2034.
As aplicações de IA no setor acompanham a demanda por inovações em pesquisa e desenvolvimento. Na prática, as diferentes vertentes da inteligência artificial têm potencial para otimizar ensaios clínicos, favorecer a descoberta de fármacos, simplificar ou automatizar processos, entre outras possibilidades.
3. Saúde Baseada em Valor (VBHC)
Os modelos de Saúde Baseada em Valor (VBHC) estão diretamente relacionados à capacidade de compreender e atender as demandas dos pacientes ao longo de todo o processo de tratamento, dos sintomas iniciais ao desfecho terapêutico. Por isso, a adoção da abordagem VBHC é uma tendência crescente e que pode ser determinante para garantir a competitividade dos laboratórios farmacêuticos.
As estratégias em VBHC não mensuram apenas a eficácia clínica, mas também a percepção de valor do próprio paciente. Isso pressupõe olhar para questões como qualidade de vida, adesão ao tratamento e satisfação, entre outros pontos.
Nesse contexto, também ganham destaque os dados e as evidências de mundo real (RWD e RWE), que podem vir de diferentes fontes de informação, exigindo das indústrias um processo qualificado de acompanhamento da jornada do paciente e inteligência analítica. A integração de dados com evidências traz contribuições para as atividades de pesquisa e desenvolvimento, mas também serve de alicerce para revisão de protocolos, personalização de tratamentos, ações de engajamento, iniciativas comerciais etc.
Em geral, o modelo de VBHC na indústria farmacêutica é sustentado por meio de programas de suporte farmacêutico (telemonitoramento, enfermeiros virtuais, lembretes eletrônicos), que auxiliam pacientes crônicos ou que usam medicamentos de alta complexidade, aumentando a adesão e reforçando o monitoramento de eventos adversos.
4. Cadeia de suprimentos e produção resiliente
Lições da pandemia e tensões geopolíticas estão levando as empresas a reconstruir suas cadeias de suprimento. Segundo dados da consultoria ZS, 90% dos executivos farmacêuticos já adotam práticas de manufatura inteligente para aumentar a eficiência logística, e 85% usam IA e dados para diversificar fornecedores ou ganhar autonomia operacional.
O foco é obter autossuficiência onde for estratégico e aproveitar mercados emergentes. Em alguns casos, legislações e incentivos globais já estimulam o redirecionamento de produção para dentro de blocos econômicos. Nesse contexto, a Organização Mundial da Saúde observa que países em desenvolvimento vêm crescendo e diversificando sua produção local de medicamentos como forma de garantir acesso aos tratamentos. A tendência, portanto, é ampliar fábricas farmacêuticas nacionais (incluindo insumos) e adotar tecnologias digitais (IoT, blockchain) para tornar a cadeia mais ágil e transparente.
No Brasil, essa tendência se traduz em políticas públicas para o fortalecimento da indústria nacional, com foco na produção de insumos farmacêuticos ativos (IFAs). De acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Insumos Farmacêuticos (Abiquifi), atualmente, a fabricação da substância no país supre apenas 5% da demanda, exigindo que 95% dos insumos sejam importados, o que, além de elevar custos de fabricação de medicamentos e vacinas, aumenta riscos de fornecimento.
Hoje, o Brasil busca retomar a fabricação de IFA. Segundo a Abiquifi, na década de 1980, o país produzia 50% da demanda nacional. Uma das medidas adotadas para incentivar a produção local é a criação do Complexo Econômico Industrial da Saúde (CEIS), com investimento total de R$ 57,4 bilhões até 2026. A intenção é reduzir a vulnerabilidade do país, sendo a produção de IFA uma das frentes do projeto.
5. Beauty care
A integração entre saúde, estética e bem-estar ganhou força nos últimos anos, movimento que tem feito a indústria farmacêutica incorporar o beauty care como parte de sua agenda de inovação. Esse processo é impulsionado pela mudança de comportamento do consumidor e pelo avanço de medicamentos que promovem impactos simultâneos em saúde metabólica e aparência física.
O fenômeno das canetas emagrecedoras é um dos marcos desse movimento: substâncias como semaglutida e tirzepatida registraram aumento consistente da demanda (com alta de 38% de prescrições ao ano, de acordo com a McKinsey) e criaram um mercado híbrido que conecta terapias farmacológicas, protocolos estéticos e produtos de alta performance.
A acentuada redução de peso proporcionada por esses medicamentos amplia a busca por intervenções complementares para tratar flacidez, perda de volume e alterações estruturais decorrentes do emagrecimento acelerado.
Nesse contexto, cresce o interesse das indústrias por categorias tradicionalmente associadas ao mercado de beleza. Injetáveis estéticos, terapias avançadas para alopecia, nutricosméticos e dermocosméticos com compostos bioativos são exemplos de abordagens que passam a compor portfólios de pesquisa e desenvolvimento.
Modelos personalizados (baseados em testes genéticos, microbioma e IA) começam a consolidar um mercado que busca prevenção do envelhecimento e intervenções menos genéricas, conectadas ao perfil biológico individual.
A combinação entre ciência farmacêutica e beauty care projeta um mercado em expansão. Segmentos como estética médica apresentam crescimento anual de dois dígitos, enquanto dermocosméticos com ativos farmacológicos tendem a dobrar de valor até 2032.
6. Envelhecimento populacional
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a população mundial está envelhecendo rapidamente. Em 2019, cerca de 1 bilhão de pessoas tinham 60 anos ou mais. Esse grupo deve chegar a 1,4 bilhão até 2030, passando de 2 bilhões em 2050.
No Brasil, o número de idosos mais do que duplicou entre 2000 e 2023, saltando de 15,2 milhões de pessoas para 33 milhões, de acordo com o IBGE. A tendência é que, até 2070, sejam mais de 75 milhões de brasileiros na faixa etária a partir dos 60 anos, o que representará quase 40% da população.
Essa mudança demográfica amplia a demanda por medicamentos para tratar condições crônicas e doenças complexas, além de impulsionar o desenvolvimento de produtos antienvelhecimento ou elaborados de acordo com as necessidades desse grupo.
O impacto dessa mudança no setor farmacêutico é inquestionável. Estima-se que o mercado mundial de medicamentos (avaliado em cerca de US$ 1,6 trilhão em 2023) ultrapasse US$ 2,2 trilhões até 2029, alta que representa uma taxa de crescimento anual composta (CAGR) de 5,5%, conforme estudo elaborado pela BCC Research. Entre os fatores que impulsionam essa expansão estão o envelhecimento e o aumento de doenças crônicas.
A combinação das tendências para a indústria farmacêutica em 2026 impõe a necessidade de estabelecer estratégias que integrem avanço científico, inteligência de dados, eficiência operacional e novas demandas de mercado.
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